segunda-feira, 5 de maio de 2008

Natalino renuncia...de fininho

Isso mesmo. Natalino renunciou. Aliás, o mínimo que poderia fazer, ou que poderiam impor a ele.

Retrospecto do ‘caso’:

Os resultados do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) e do Indicador de Diferença entre os Desempenhos Observado e Esperado (IDD) comprovaram na semana passada (divulgação em 29/04/2008) que os cursos de medicina não vão bem não. Bom, talvez meu comentário seja um pouco radical, já que de 103 cursos apenas 17 apresentaram baixo desempenho e serão submetidos à supervisão, com possibilidade de serem fechados se não melhorarem substancialmente (?)...

...radical nada. Pense no número de médicos (profissão que não exige mesmo que o profissional seja proficiente — hã?) ‘mal-formados’ saídos de ‘apenas’ 17 universidades do País. Dentre elas, 4 Federais.

Voltando...Bem, você deve ter visto qual foi o comentário do coordenador do colegiado da Faculdade de Medicina (Famed) da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Antonio Natalino Manta Dantas, sobre o mau desempenho dos alunos de lá: “Deve haver uma inferioridade do alunado baiano com relação ao de outros lugares"..."Talvez o baiano tenha déficits com relação a outras populações. Afinal, a prova foi a mesma em todo o País."

Além disso, aproveitou para dizer "apesar das grandes riquezas naturais"...e associar os problemas no desenvolvimento econômico da região com a capacidade intelectual dos conterrâneos. Não contente até aí, referiu-se ao berimbau como "o típico instrumento de quem tem poucos neurônios", e qualificou a música de grupos como o Olodum, como "barulho".

Diz pra mim se ele não pediu?

Através de seus comentários, ele contribuiu com a disseminação de uma idéia discriminatória e preconceituosa e, antes de qualquer coisa, equívoca.

Provar a inferioridade de um povo baseado em quê? Na música regional que é tão tradicional quanto a de qualquer outro Estado? Que tem origem muito antiga e reporta a tantos valores culturais transmitidos de geração a geração?

Poxa vida. Como deixaram esse homem abrir a boca.

Dá pra entender como os estudantes da região têm sido prejudicados no ensino. Difundir que o problema está com o aluno é ignorância absoluta. Fragilidades estruturais é que deveriam ser debatidas. Especialmente a formação desse cidadão, que está lá formando pessoas. E é baiano. E deve julgar os outros por si mesmo.

A discussão que abro é a seguinte:

Diante do feliz comentário do Seu Natalino, o presidente do grupo Olodum, João Jorge Rodrigues, comparou-o a Hitler.

Com base num questionamento que surgiu no meu trabalho, sei que vou pressionar, mas gostaria de saber, o que vc acha? O possível poder de influência (eu disse possível, pense no coronelismo presente até os dias atuais) dele permite uma comparação assim? É desse jeito que déspotas começam e difundem absurdos que podem ser absorvidos pelos menos preparados?

5 comentários:

Anônimo disse...

Claro que esse senhor se expressou mal pra caramba, mas que há um desnível cultural, social e histórico entre regiões nesse país existe... É claro que onde se concentra a maior parte da renda estarão os melhores profissionais, as melhores escolas e por aí vai... Claro que a comparação foi ridícula mas focar no fuzilamento do senhor é tirar de foco o principal...

Unknown disse...

Realmente,seu Natalino não foi feliz em sua colocação, porém, esse episódio demonstra claramente a razão do resultado do exame.
Se o respeitável "líder" dessa Universidade é capaz de "tecer" uma observação como essa, imaginem os "pobres" alunos que ingressam nessa Universidade com o intuito de aprender uma profissão com esse tipo de docência.
Esse é o Brasil que está sendo criado por nossos líderes.

Deus nos ajude.

Anônimo disse...

Não há dúvidas de que o sujeito se expressou de forma inadequada, não só pela posição que ocupava, mas pela declaração em sí. Mas, embora descabida, não acredito que a declaraçõ seja o ponto cerne do problema. Há uma complexidade maior que se inicia desde forma como o ensino público fundamental, um direito constitucional, é implementada no país até como ensino superior se desencadeia. Esse tipo de coisa só mostra que um chavão deste ainda continua bastante atual. Qualidade ainda não está na frente da quantidade (não dá pra festejar o maior acesso ao ensino fundamental, ainda não!)

PH Oliveira disse...

Bom, é fácil dissertar sobre o quão imprópria e absurda foi a declaração do "Seu Natalino". É óbvio e eu concordo com as postagens acima, que o que existe é uma diferença clara entre as regiões do país. Isso é geopolítico, acontece dentro do Brasil como acontece no mundo, ta aí a África que não me deixa mentir... O ponto é que, com menos investimentos em regiões economicamente desfavorecidas, o ensino, a saúde e a infra-estrutura serão negativamente influenciados. Ou seja, não existe a “inferiorização” intelectual de uma raça ou comunidade, mas sim, a falta de acesso, seja à informação ou a recursos mínimos de sanidade, de forma similar a todos.

Quanto à pergunta feita no final, sobre o "coronelismo e sua influência direta na opinião de outros", fica a minha dúvida, afinal, os coronéis como o finado ACM, a família Sarney no Maranhão, Collor em Alagoas e tantos outros que dominam as capitanias hereditárias que insistem em não acabar, têm sim influência política e econômica em sua região, mas não sei se concordo com o fato de que eles influenciam intelectualmente" pessoas que ainda dão ouvidos à suas baboseiras. Agora, que existem grupos que podem se aproveitar de uma declaração como esta, isto é fato! Qualquer grupo neo-nazista, no caso, anti-nordestinos, pode se apropriar de uma declaração destas para ofender, humilhar e até machucar pessoas de determinada etnia por causa de uma declaração como a do Sr. Natalino".

Anônimo disse...

A vingança do berimbau por Miguezim de Princesa

Superado pelo tempo,
Ensinando muito mal,
Fabricando mil diplomas
Para entupir hospital,
O doutor da faculdade
Botou, com toda maldade,
A culpa no berimbau.

Disse o doutor Natalino
Que o baiano é um mocó,
Sem coragem e inteligência,
Preguiçoso de dar dó,
Só liga pra carnaval
E só toca berimbau
Porque tem uma corda só.

O sujeito ignorante
Não conhece o berimbau,
Que atravessou o mundo
Com toda a força ancestral.
Na fronteira da emoção,
Traz da África a percussão
Da diáspora cultural.

Nem Baden Powel resistiu
À percussão milenar,
Uma corda a encantar seis
Na tristeza camará
De Salvador da Bahia.
Quem toca e canta poesia
Na dança sabe lutar.

O doutor, se estudou,
Na certa não aprendeu nada:
Diz que o som do Olodum
Não passa de uma zoada
E a cultura baiana
É uma penca de bananas,
Primitiva e atrasada.

Jimmy Cliffi, Michael Jackson,
Paul Simon e o escambau
Se renderam ao Olodum
Com seu toque genial,
Que nasceu no Pelourinho
E hoje abre caminho
No cenário mundial.

O baiano é primitivo?
Veja só o resultado:
Ruy foi o Águia de Haia;
Castro Alves, verso-alado
De poeta condoreiro,
E gente do mundo inteiro
Se curvou a Jorge Amado.

Bethânea, Caetano e Gil,
Armandinho, Dodô e Osmar,
Gal Costa, MoraisMoreira,
Batatinha a encantar
João Gilberto, Bossa Nova
Novos Baianos são prova
Da grandeza do lugar.

Glauber, no Cinema Novo;
Gregório, velha poesia;
Gordurinha, no rojão;
Milton, na Geografia;
Anà sio, na Educação;
Dias Gomes, na encenação;
João Ubaldo e Adonias.

Menestrel da cantoria
Temos o mestre Elomar,
Xangai, Wilson Aragão,
Bule-Bule a improvisar,
Roberto Mendes viola
A chula – semba de Angola,
Nosso samba de a lém-mar.

Se eu fosse citar todos
Que merecem citação,
Faria um livro de nomes
Tão grande é a relação.
Desculpe, Afrânio Peixoto,
Esse doutor é um roto
Procurando promoção!

Com vergonha do que fez:
Insultar toda a Nação,
O tal doutor Natalino
Pediu exoneração
E não encontra ninguém,
Nem um nazista do além,
Para tomar a lição.

O baiano é pirracento,
Mas paga com bem o mal:
Dá uma chance a Natalino
Lá no Mercado Central
De ganhar alguns trocados
Segurando o pau dobrado
Da corda do berimbau

Quer mais??? rsrsrs
Descriminação pra quê????